segunda-feira, outubro 31, 2011

Reflexões à toa sobre as medidas – II - A falácia dos feriados e a nova China


http://www.wmich.edu/registrar/
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No governo está gente que até parece que nunca trabalhou. Com outros. Por isso vou ter de fazer um intróito. Simplificando, tanto na função pública como nas empresas privadas, há 3 espécies de trabalhadores: os que trabalham muito, os que trabalham e os que se encostam.
Como tenho dito inúmeras vezes, o problema não está nos feriados ou pontes, está em pôr a trabalhar quem não trabalha nos outros dias.
Essa história dos 37 milhões que custam os feriados não convence ninguém. Podiam falar dos 15 mil milhões das PPPs, mas disso, silêncio.
Tirar feriados não vai pôr os que se encostam a trabalhar, nem a trabalhar muito os que trabalham.
Então na função pública, a conjugação de cortes em cerca de 40% no salário (o corte do ano passado mais os subsídios do próximo) com a farsa da avaliação e agora a retirada de dias de descanso, vai transformar funcionários que já eram mal pagos em completamente desmotivados. Os que trabalham e os que trabalham muito vão trabalhar menos, enquanto os que se encostam vão continuar encostados.
Sem dúvida um grande prémio de produtividade e verdadeiro incentivo da meritocracia. Ganham os encostados. Como sempre.
Não deixem que vos mintam, como aqui.
Fui verificar os feriados nos outros países da dita União Europeia e comecei pela própria Comissão (ver aqui). Ora bem, esta tem 18 dias feriados em 2012, teve 17 em 2011 (parece-me que são mais, porque falta o 1 de Janeiro…). E foram estes senhores, que fazem parte da troika que disseram que temos feriados a mais?
Vamos então aos outros. A versão oficial minimalista está aqui. Digo minimalista, porque não tem todos os feriados. Andei pela Internet à procura deles e encontrei sempre versões contraditórias. Sei por isso que esta versão oficial não é “completa”. E também alguém que fez exactamente o que eu estava a fazer (desisti porque senão não publicava isto a tempo) não tem tudo (ver aqui).
Outra versão oficial que parece melhor, é aqui.
Mesmo utilizando a tal versão oficial que reafirmo estar incompleta (vide faltar o 6 de Janeiro a Espanha e o facto de cada Estado na Alemanha ter mais feriados além destes), podemos verificar o seguinte:
O Estado membro que menos feriados tem, é o Luxemburgo, com 7 (mentira, porque tem mais 2). O que tem mais feriados é a Bélgica, com 23 (nesta versão ainda falta o 23 de Dezembro, por isso serão 24).
Portugal tem 13 feriados que como noutros países, algumas vezes calham em sábados ou domingos e por isso não são gozados autonomamente, a não ser por alguns sectores.
Por esta versão “oficial”, a média de feriados será de 12,56, o que quer dizer que até estaríamos na média…
Há 8 países com mais feriados que Portugal, e outros 5 com exactamente o mesmo número, e outros 5, só com menos 1.
Entre eles estão países dos mais competitivos da União. Por isso, como se vê, o problema não está nos feriados, e querem tirar 4!!! Ou seja, vamos passar a ser os escravos da Europa.
Tomar esta decisão é fingir que se resolve um problema não o resolvendo.
O fim desta medida e dos cortes em salários, só pode querer dizer que querem transformar Portugal na China da Europa.
Que coisa tão fora-de-moda… Não esperava isto de quem veio do Canadá.
Esta estratégia da competitividade através do baixo custo da mão-de-obra pensava eu que era coisa do passado, tanto da ditadura como dos anos 70.
Isto é que se chama regredir e voltar a perder no terreno da competitividade dos chamados países desenvolvidos…
Odeio mentiras e falsidades que não têm como fim aquilo que é prometido. Continuam a querer meter a cabeça debaixo da terra, à custa de quem trabalha.
Pois, porque quem não trabalha, não se rala mesmo nada. 

domingo, outubro 30, 2011

Nesta casa, quando abrimos qualquer gaveta ao acaso, é certo e sabido que nos saltam para o colo fotografias ou gravuras de Dom Miguel, Dom Duarte Nuno ou D. Domingos Frutuoso (dominicano que foi Bispo de Portalegre em tempos muito idos).

sábado, outubro 29, 2011


A minha casa é esta. Neste Alentejo especial, amancebado com Ribatejo e Beira Baixa. No entanto, nem agora é minha nem provávelmente virá a ser.
Grande parte das memórias de infância está aqui. Memórias solitárias e memórias partilhadas com irmãos e primos.
Estão cá as folhas dos concursos de desenho que a avó organizava para os nossos pais, com a respectiva classificação, que incluía menções honrosas. Às vezes o mais novo também ganhava o primeiro prémio.
Estão cá as sebentas que a avó comprava para cada um dos netos com esperança de que tivéssemos tanto jeito para o desenho como nossos pais.
Ao serão, sentávamo-nos todos à volta da camilha, os pés dependurados das cadeiras demasiado altas, e à luz do candeeiro a petróleo cuja chama a avó ia regulando numa rodinha, sempre com atenção para que a rede da chaminé não se queimasse, esforçávamo-nos para que daquelas páginas de papel saísse qualquer coisa de genial. Não saía.
Pode a casa até cair de um dia para o outro. Se cá estiver, morro na casa que quero como minha. Afogada nas memórias e feliz.

sábado, outubro 22, 2011

Reflexões sobre medidas - I


Ainda no governo anterior, e por razões economicistas ou lá como lhes gostam de chamar, decidiram cortar nos transportes dos doentes.
Claro que isto só afecta os doentes da chamada "província" e é uma vergonha. Se havia abusos, era fiscalizar os abusos. Como de costume e por conveniência orçamental, paga o justo pelo pecador.
Vê-se mesmo que são decisões de quem tem chauffeur ou autocarro à porta. 
Por questões económicas, tiraram ao interior as escolas, os centros de saúde, hospitais, tudo. 
Eles que paguem as deslocações às unidades concentradas, tão mais económicas para o Estado, não é? Reitero a minha proposta. Os governos que vivam um mês sem carro numa aldeia isolada. 
Percebem logo. 
Aliás já perceberam, mas os votantes estão no litoral, querem lá saber dos velhotes de aldeias de que nem sabem o nome e que têm uma reforma que não paga o táxi...
Até já desconfio de que no fundo se planeia um genocídio de todos os velhotes indesejados que vivam bem longe da vista. 
Se não é, disfarçam muito bem.

sexta-feira, outubro 21, 2011


Aviso: não pretendo fazer crítica literária (ignara...!).
Depois de ler o difícil mas fantástico e fantasioso At Swim-Two-Birds, gostei imenso deste.
Muitíssimo bem escrito e engraçado.
Uma liberdade na escrita que se admira e rapidamente nos deixamos levar pela imaginação do escritor.
Brilhante.

No centenário do seu nascimento.

quarta-feira, outubro 19, 2011


18 de Outubro de 2011. Toda a manhã numa inquietação.
12h 50m. Hora de almoço. Desço no elevador com outros, em silêncio. Saio e caminho depressa para as escadas ansiando o ar fresco, já de cigarro na mão.
As lágrimas não esperaram. Silenciosas, amargas, sem controlo.
Estranho. Abano a cabeça tentando sacudir o incómodo. Não resulta, e de cabeça baixa acendo o cigarro. Uma gota libertária salta para o dedo e molha o cigarro.
Dou uns passos esperando que o objectivo almoço seja distracção suficiente para acabar com o disparate. Nada a fazer.
Cedo. Porque não? Tantos e tantos anos de roubos, enganos, ganâncias, corrupções, impunidades, e nós revoltados, angustiados, impotentes. As vozes que não são ouvidas. Nem antes, nem agora.
Queremos acordar do pesadelo e não nos deixam. Não há luz ao fundo do túnel porque já não há túnel. Continuam a soterrá-lo usando sempre as mesmas pás.
Afinal, choro por Portugal. Deixem-me ter esta fraqueza. Hoje.
Amanhã vou escavar o túnel com as minhas pás. 

domingo, outubro 16, 2011

Reflexões à toa sobre a crise - II


Até agora parece que a solução brilhante para a crise tem sido o contrário do que todos apregoavam.
No antes, enumeraram mil e uma soluções, com números elucidativos, expostos com paixão e indignação.
No depois, as mil e uma soluções reduziram-se a uma. 
Impera a falta de imaginação e a criatividade, e como sempre a solução mais fácil é a vencedora.
Os eternos pagadores dos crimes de outrém, os maus da fita porque diabolizados face à opinião pública, são os funcionários públicos que levam com aumentos de impostos disfarçados em cortes de despesa.
É imediato, os outros respiram de alívio porque não lhes toca e até acham muito bem, porque os funcionários públicos merecem o pior dos mundos.
Parece que agora também os pensionistas, cujos proventos são controlados pelo Estado, passaram a ser outro instrumento útil para a caixa registadora pública.

Das soluções do antes, nunca mais ninguém vai ouvir falar. Talvez uma ou duas para o conveniente disfarce.

sábado, outubro 15, 2011

Reflexões à toa sobre a crise - I


Alguém andou a roubar os portugueses. Alguém andou a ganhar com negócios obscuros. Alguém assinou esses contratos, essas vilanias, esses esbulhos. Alguém de olho torvo posto no lucro, como diria meu avô citando Eça, gananciou e embolsou.
Se numa empresa privada isso daria direito a um processo criminal imediato, alguém me explique porque é que esse alguém não pode ver o seu torpe acto criminalizado, mesmo com as leis actuais. Um gestor público quer tenha a designação de ministro, secretário de Estado ou gestor de empresa pública, não tem responsabilidades, ou só tem direitos, especialmente o de roubar, favorecendo terceiros?
Quando assinam o compromisso de honra, “afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas…” e se lesaram interesses públicos, a lealdade ficou onde?
É preciso haver legislação específica para condenar pessoas que actuaram com sabemos? Não basta a quebra do compromisso? 
Ou a honra já não vale um cêntimo?

terça-feira, outubro 11, 2011

Desconheço-te mas fazes-me falta.

1001


maanumberaday.blogspot.com

Não, não tem nada a ver com mil e uma noites. É apenas o número de visualizações até hoje deste meu cantinho bloguista (pode até ser mais, porque não contei durante algum tempo). 
Comecei em 18/05/04, devagarinho, com muitas interrupções, mas parece que já estarei apta para finalmente tirar a carta de condução de blogueira. Pelo menos a de velocípede.
Sei que muitas pessoas dão de caras com isto apenas porque pesquisaram certas palavras. Não encontraram com certeza o que queriam. Não interessa. Espreitaram pelo buraco da fechadura e viram a minha sala. Não faço ideia se gostaram ou se fugiram arrepelando os cabelos de horror.
Afinal nem é preciso espreitar, a sala tem a porta escancarada e esqueço-me disso com frequência. 
Tenho perfeita consciência da inconstância dos textos, da fraca qualidade de muitos, da mistura caótica de temas (nisso até reflecte a minha sala real!). O que está mal, mal fica. Não tiro nada, porque assumo o bom e o mau. Se isso não me ajudar a crescer, não sei o que fará.
Só posso agradecer a todos os que têm a infinita paciência de me ir lendo nos dias bons e nos dias maus.
Obrigada!